quarta-feira, fevereiro 16, 2005

Ao É a Cultura, Estúpido

Já fui a várias sessões e tenho achado muito interessantes os debates É a Cultura, Estúpido que se realizam uma vez por mês, no Jardim de Inverno do Teatro S. Luís. Trata-se de uma fórmula simples que foi posta em funcionamento por Nuno Artur Silva, das Produçoes Fictícias e por Jorge Salavisa, director do Teatro S. Luís. Um grupo de entrevistadores (Anabela Mota Ribeiro, Pedro Mexia, Pedro Lomba, Daniel Oliveira, João Miguel Tavares, José Mário Silva e Ricardo Araújo Pereira)entrevistam um convidado, ontem José Gil, e, simultaneamente falam dos livros que andam a ler e dos que...não andam a ler. A sessão termina com um apontamento final de humor a cargo de Ricardo Araújo Pereira. Ontem não houve livros e senti a falta, embora tenha sido muito interessante o que saiu da entrevista ao Prof José Gil.

O debate é interessante desde logo pois a sala está sempre cheia. E quem organiza debates no espaço público sabe como é difícil encher salas como a do Jardim de Inverno. Se a sala enche é porque os debates se sintonizam com os tempos. E o humor, embora essencial, não explica tudo. Tem que haver uma sintonia entre o que se passa e as preocupações de algumas pessoas que regularmente a eles se deslocam.
É interessante porque há um público jovem que é maioritário. Ou seja, esse discurso de que os jovens estão afastados da cultura, não me parece adequado. Ha uns que estão, outras não, embora a concepção de cultura possa também explicar certas fruiçoes e certas ausências. Uns gostam de jaz, outras de cinema, outras de debates, outras de livros. É cultura, estúpido...

É interessante pelos livros, embora por vezes seja demasiada longa esta análise. Mas sempre pertinente e viva.

É interessante pelas personalidades convidadas que se ficam a conhecer de forma mais próxima.

É interessante pois estes debates representam o alargamento do espaço público que José Gil diz quase inexistente e ocupado pelos media. Nas suas declarações ontem, no entanto, ficamos a saber que falar é desejo, e também é criar conexões com outros, conexões que serão eventualmente expandidas. Acho demasiado redutor dizer que o espaço público não existe. Diria que existe demasiado ocupado pelos media, isso parece inquestionável. Mas não sei se, como observou Pedro Mexia, isso não representa uma característica geral das sociedades modernas, em vez de ser uma especificidade portuguesa. É verdade que existem insuficiências especiais, que se explicam em parte pelos efeitos a longo prazo da ditadura como explica José Gil. É verdade que muitos de nós viveram e interiorizaram os medos e foram "infantilizados" pelos silêncios da diatadura. Mas também é verdade que muitos de nós resistimos com acções e pensamentos
a esse ar abafado, claustrofóbico que se vivia antes do 25 de Abril. E tiramos o medo de dentro.

No debate de ontem, José Gil, alguém observou foi mais optimista do que no livro. Acho que também é (foi) um mérito do É a Cultura, Estúpido!